quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Segundo caderno sem data e título

I

Um dia mais c'o nada p'ra fazer,
tarde acordar, sentir correndo e dar
aos minutos o vício que a matar
Tudo o que não se quer, faz-nos esquecer.

Sempre igual o caminho e o perder
Constante é o desejo a não lembrar
Mas o a a Deus se pele ele vai dar
sempre no mesmo mas ninguém quer ter.

Acordo tarde o sonho esqucido faço
Do dia o meu produto e assim penso
Como sono acordo pois vivi. Esquento,

A água p'ro café fumo um cigarro.
Sem noçao do que fui do que perdi,
Entre dois bafos um só trago o vi.

II

Não durmo p'la vontade que não falta
Quero o que só na inconsciência vejo
De que me serve isto que aqui vos deixo
Com ironia certo estou que passa.

Quero partir por q'rer voltar a casa
ao que esse nome tem. Estou só e cheio
De tudo o que me oprime. Nada anseio
E a falta de desejo o corpo mata.

Olhava incerto na certeza minha
Gestos só definidos se explicados
Palavras trémulas, tão gagas, frias
Conteúdo do espaço que se vê.

É tudo o mesmo sem saber porque.
Quero dormir estou de mim 'stafado.

III

Só mudam as pessoas que fazem
O grupo em que vou; estou sentado
Descanso não as pernas, só cansado
Estou deste caminho desta viagem.

Mesmo sabendo que todos partem
Da base que repito, vou ao lado,
sempre c'o mesmo grito e o criado
Faz-se quando os meus restos se desfazem.

Estou quase a chegou findo um poema
Fito os olhos tão tristes destes outros
Olham p'ra mim como se fosse um monstro
Distraiem-me por pouco com um tema.

Senhor não veêm o meu grito e insisto
Nisto que eu faço e num só banco findo.

Segundo caderno sem data e título







Segundo caderno sem data e título


I


ÎI

O céu perdera a cor, estava cinza
As árvores c'o vento baloiçavam
Como as mulheres ensinam mas não davam
Parecia que ia chover mas não chovia.

O arder do cigarro rubro ardia
A rua estava deserta não passavam
mais que instantes por mim, tanto duravam
Como o café saboreava o dia.

Vertera em mim o que bebia, sujo
Não como antes estava, tinha o chão
De destino algo: o céu de feio fere

O vento quando passa traz e perder
Tudo o que em mim estava. A um defunto
Nada mais dava que uma só canção.

II

tem-se a noite c'o negro sem sentido
nada mais lhe atribui falta de cor
é tão pouca esta luz o monitor
so da a mente se nao tem castigo.

No escuro vem o medo: estou sozinho
no escuro fujo do que quer que for
mas basta a manha vir que posso por
no que antes n tinha um qualquer sentido.

Todo o começo fim de algo é. E chega
com uma cançao sempre e sempre certa
mesmo que diga olá c'o a despedida.

Assim as noites nao sao noites vida
tenho com outra luz: manhã incerta
em q a tristeza me dorme e o corpo aguenta

Segunda caderno sem data e título

I

Mais um dia sem nada, repleto das merdas que ele não me deu. Tento em vão criar mas estou oco, sem o que me motiva. Ecôo o princípio de tudo e daí não saio porque não posso. Mas que interessa? Sou só um entre bilhões, neste sítio entre 10 e porque haveria Ele de se importar comigo?

Sou um menino que não quer ser grande, que não vê o que o balcão esconde, nem de bicos de pé lhe chega.

II

Tremo quando a vejo ou sinto,
Um pouco mais perto de mim,
Digo merdas, só sorrio
Por momentos não existo
C'o início tenho fim.

Quem el'é nunca e importa
Basta ser por ela mudo
Dá-se a consciência por morta
Se saltar aperta a corda
Estou no meu pequeno mundo.

A consequência aos poucos faz-me
E a derrota só mais limita
A pressão opressão dá-me
Implosão que um dia alastre
Em mim causa que não finda.

III

A cabeça dói-me
Aos poucos não faz
Sentido e apraz
o que bebo rói-me.

Como uma criança
Tudo vejo e toco
A cabeça só rodo
Nem o corpo dança.

Um cigarro anseio
A calma sem sossego
Com um trago mais desço
mais uma passa e não vejo.

Mais uma vez insisto
Uma criança sou
Onde quer que estou
Tudo me é bonito.

IV

Miúda essa tristeza
Procura não funda
Dá-se tudo numa
Roupa é a defesa.

Bebe então escondida,
Quer ser descoberta
Bela mas aberta
A quem a vê menina.

E a música insiste
não pára dá asas
e a noite assim passa
Amanhã não existe.

Sim enrola-me uma
não conta afinal
não mas é mortal
se fossem eram duas.

Duas estão tão perto,
Tenho asas assim
Nada tenho ao fim
Sonho porque quero.

E a cerveja acaba
Quase chegas a mim
Tenho tudo ao fim
Com uma só passa.

V

Pudesse o dia ser noite
e as manhãs o fim de algo novo
Sou boémio como os grande
mas não como eles sou pequenho
Como eles tenho um dia.

A luz queima-me a vista
A água arranha-me a garganta
E o ar puro faz-me tossir.
Por comparação sou raro
E sujo por dizer que me masturbo.

Sou o que sou
Que me tomem assim,
Assim como sou
Assim como vejo o mundo
e Assim como ele me vê.

Duvido ele me dê,
Algo mais que isto,
Sou um profano espírito
Sinto só quando bebo.

Quero sair daqui
Quero mas o corpo não pode
e o que quero o alimenta

Estou farto
Farto de tudo
Estou de luto por mim...
E assim choro e passa mais um dia
e escrevo
escrevo como os meus dias são
e vão
e não vou para algum lado
sei que não vou
e por ir e vir
por ir sem saber
não há caminho para voltar.

Sou assim,
mas assim sou.

VI

No parque a menina
Tinha um chupa.chupa
Ar de quem disputa
Até quem não via.

Agora ela quer
Noites sem vazio
Diz-me que ouviu
Que hoje ela é mulher.

No parque sentada
Plástico nos dedos
O que tem segredos
É o que hoje é nada.

VII

Tenho fome e o instinto
Vai leve mais forte
c'o baloiçar da carruagem

Nem a escrita me abstrai.
Desta vez não há motivo p'ro que faço...

Cheira a pão
Cheira pão com fiambre.

Sinto-o
Sinto-o
Está tão perto
Quero-o
mas sem o tirar.

Provoca-me a criança que come
Que com dentadas inocentes me consome
Como mulheres nunca o fizeram

Dói-me o corpo
E mais não escrevo.

Segundo caderno sem data e título















Segundo caderno sem data e título

Como uma janela fecho-me ao mundo que só me traz frio e pó do que um dia foi grande. Passam por mim, passam por mim aos milhares, mas quase ninguém olha p'ra mim. Estou muito alto mesmo que só esteja no fundo. Fecho-me mas quem quiser se perder vê o que em mim se passa. Uma confusão, uma merda que assusta ou que por pena desperta interesse: sim , é assim que sou.

Por vezes porém quando o ambiente o permite, e o sol incide de uma forma qualquer reflito sendo o mesmo, o mesmo que me rodeia. Sou por instantes como quem me vê, talvez pareça melhor.

segundo caderno sem data e título